I.
Escrevo enquanto oculto a minha rotina cheia
de memórias tuas. Despedi-me do Porto para esquecer-me da tua existência.
Dormir naquele quarto cheio de memórias, roupa tua, objetos teus tirava-me o
ar, despia-me a alma para um lugar sangrento. Penso ainda nos dias em que vais
voltar aos meus braços, em que soltas palavras de amor e mexes com saudade nas nossas
recordações. Já sei que o nosso amor foi outro amor qualquer. Para ti. Mas não
deixo de dizer que o nosso amor, foi o amor maior que eu já tive. E acordo
todos os dias com o pensamento cheio de desejos e vontades de ter-te nos meus
braços. Escrevo isto também a saber que estás longe, estás feliz, estás fora do
meu mundo, estás a criar outros sentimentos com outras pessoas e eu sei disso
tão bem. Ainda não consigo perceber como já não vês nada em mim. Parece que
tudo foi destruído e eu sou a pessoa que mais odeias no mundo. Odiar. Palavra
tão forte. Era incapaz de te odiar. Amar-te-ia sempre mesmo com todo o ódio que
existe. Acho que nunca vou conseguir esquecer o passado, mesmo que as
recordações do presente sejam dolorosas.
Magoa-me saber que já não existo. Sou apenas
mais uma pessoa no mundo. Uma pessoa que passou na tua vida e agora está tudo
bem, porque os sentimentos dissiparam-se. Magoa-me saber que nunca mais vamos
ser um, que não vou voltar a ter uma vida em conjunto, existir beijos e abraços
e conversas de amor e noites de dormir apenas porque é bom dormir ao teu lado.
É uma faca no coração que não deixa de sangrar. Talvez sejamos impossíveis,
incompatíveis, disfuncionais. Acredito mesmo que sim. E acredito que escrevo
este texto enquanto não te vem à cabeça nem um pensamento da minha existência.
Já não queres saber se eu respiro ou não. Talvez seja essa a dor maior no meio
disto tudo. Não quero sequer acreditar que já não te lembras de mim, que não
recordes com saudades os momentos felizes que tivemos. Mas não morro de saber
que isso já não acontece. Escrevo apenas para dizer que vou sempre amar-te. E
tu nunca mais me vais amar.
Acreditei nas tuas palavras de amor. Era um
fervor no peito quando dizias que me amavas, quando tinhas ciúmes, quando
dizias que não querias deixar-me sair da tua vida, quando dizias que não era
impossível voltarmos no futuro. Acreditei em todas essas palavras como se
fossem preciosas e agora, o que sobra de nós? Nada. Não sobra absolutamente
nada. Sobra ódio, desprezo, cansaço, manipulação, indiferença. Sobra tudo de
mau. E pergunto-me, todos os dias, se era isso que estava estipulado para nós
as duas. Pergunto-me se será sempre o nosso futuro.
Queria conseguir fugir do meu pensamento
sobre ti. Esquecer-me da tua existência. Mas parece-me obra impossível. E agora
escrevo. Mais uma vez, daquilo que não te posso dizer.
O fim chegou.
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