Refugiados. Esta palavra
parece assustar muitas pessoas. Talvez seja a falta de consciência e informação
da realidade desta crise. É culpa do medo que é transmitido pelos media e
atores políticos, numa lógica de apresentar mil desculpas que nos fazem
acreditar que essas pessoas não merecem o acesso aos seus direitos. Direitos à
vida e a uma vida com direitos.
Nenhum dos principais
responsáveis políticos quer receber a responsabilidade do problema. Pretendem
deixar a batata quente para outro e o ciclo continua. Ou seja, a Europa
pretende passar a imagem que está demasiado fragilizada para receber
refugiados. Não querem estar à espera, porque simplesmente não querem estar à
espera.
Todos os dias chegam dezenas,
senão centenas de refugiados, que assumem o risco da vida e da morte. Os barcos
que as transportam representam em si mesmo um perigo para as suas vidas. E
fazem-nos porque não têm outra opção. Muitos deles são médicos, professores,
engenheiros, estudantes e advogados. E estamos a falar dos que chegam cá vivos.
A aventura só aqui começou. Já na Europa, encontram uma fronteira isolada onde
sofrem abusos e acabam por ser despejados novamente no mar. Não têm escolha e
acabam por morrer por falta de meios de sobrevivência ou então, afogados.
À medida que o tempo
passa e a Primavera se aproxima, o número de refugiados aumenta
significativamente e a Europa tem de estar mobilizada para abraçar este
problema. É necessário que deixe de existir uma falta de vontade política para
ajudar. Relembrando que os refugiados não são apenas números, são pessoas que
precisam de ajuda e sofrem todos os dias para conseguirem ser felizes. Se os
refugiados fossem terroristas, não fugiam da terra do terror.
E é por isso, que temos
de colocar algumas questões a nós próprios, perguntar porque razão há milhares
de pessoas que arriscam e pressionam a sua vida num barco para sair do seu
país. Não há dúvida que o país onde nascemos é o porto seguro. Mas quando há
mais que a vontade, mas sim, a necessidade de sair é porque há razões válidas
para que isso aconteça. Estas não pessoas não emigram, fogem à guerra e à
ameaça de morte. Perguntar se essas pessoas não têm o mesmo direito que nós. O
direito à vida não tem de ser questionável, num mundo onde ninguém devia ser
estrangeiro.
A Europa continua a
receber um nicho muito pequeno de refugiados comparado com o Líbano (1,1
milhões), Jordânia (>600 mil) e Turquia (2,2 milhões). Apenas 1 milhão de refugiados
estão inseridos na Europa. Por isso, a ideia que a Europa recebe muitos
refugiados é apenas uma fraude transmitida pelos meios de comunicação social
para amenizar o problema. Os refugiados estão alojados, maioritariamente, em
países subdesenvolvidos.
Em relação a Portugal,
não chega a informação sobre a existência do nosso país e acaba por não ser uma
opção para os refugiados que lutam com o objetivo de se dirigirem para a
Grécia. Em primeiro lugar, para os recebermos temos de perceber qual a sua vida
e o seu quotidiano e olhar de frente para a crise humanitária que não pára de
crescer. Portugal acaba por ficar disfarçado, por ser um país mais escondido da
Europa e acaba por não fazer grandes ações em relação a esta crise. Há que
fazer com que os refugiados não se registem na Alemanha e venham para Portugal,
fazer propostas para uma mudança da lei de asilo. A lei de asilo não permite
que essas pessoas possam trazer familiares e só um trabalho de proximidade abre
a possibilidade de recriar laços familiares e culturais.
Os refugiados instalados
em Portugal, vivem debaixo de uma pedra e quando chega o fim dos anos que a lei
permite, acabam por sair do país porque não garantem os direitos que têm
direito. Não houve, nem há um plano de integração social. E onde falta um
plano, o CPR (Conselho Português para os Refugiados) não dá resposta eficaz ao
problema. A língua é provavelmente o maior obstáculo ao qual estão sujeitos,
porque não conseguem arranjar um emprego sem saberem falar português e quando
recebem cartas das finanças, por exemplo, não percebem o que está lá escrito. A
maior parte das dívidas dos refugiados são as dívidas de alojamento.
É revoltante saber que
os refugiados desesperadamente esperam conseguir outras soluções para além do
estatuto de refugiado e a burocracia e a falta de vontade na Europa barram-lhes
os direitos. A mudança política na Europa tem de ser já. Lutar pela igualdade
de direitos humanos é uma luta por eles e por nós. A História da Europa é feita
de migrações, refugiados, guerras e paz. Não estamos isentos de culpas no
cartório nem livres de crises internas e fantasmas do passado. Na Europa e no
mundo ninguém pode ser estrangeiro. Somos todos cidadãos. Ninguém tem de ser
recusado a esse direito. Consciencializar para combater o preconceito.
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