A arte.
A arte corre-me nas veias. É certo.
Por vezes vejo-me em confronto com as palavras,
os movimentos, os olhares desfocados dos que me rodeiam. Eles olham. Olham
sempre, com atenção e julgamento de todos os passos que eu dou.
Nunca sei quem eu sou. Olho vezes sem conta,
respiro, tento de novo. Parece que tudo está errado, mas tudo está certo. As
palavras deambulam por aquelas paredes brancas, sala vazia e espelhos que fujo
em espreitar. Tenho medo do que não sou. Mais do que aquilo que sou, tenho
receio de não ser o que sempre quis ser.
Devagar. É lento o caminho. Dou passos lentos
pela sala, penso no que vou dizer e mais uma vez… um tom monótono, sem
sentimento, deslocado do texto. É sempre assim. Expectativas furadas, esfaqueadas
por sonhos e completamente ensanguentadas.
Eu vivo arte. Vejo o belo. Conjugo a música, os
espaços com corpos contorcidos, palavras e palavras… das mais belas palavras de
amor. A tragédia. A morte. A minha própria morte antes de entrar em palco. Todo
o meu ser fica a palpitar, a destruir-se por dentro, uma excitação de entrar e…
Ai! O amor pela emoção nunca foi tão intenso. Tirem-me a vida, por favor, se
assim não for como penso. Odeio ter esta sensação de achar que tudo é bonito, tudo
pode acontecer, tudo é real mas de uma fantasia muito própria, muito minha. Em
parte, desejo que me arranquem a alma, lavem-na no rio mais puro e inocente,
voltem e tragam-me a vontade de sair do meu corpo tímido. Quero ser
destemida! Sempre. Atirar-me à personagem, deixar o meu corpo fluir, nunca ter
medo. Não ter medo de como as palavras possam soar, como a voz ecoa… A emoção
transcende todos os medos da procura pela perfeição.
Ao
som de Saint-Saens: The Swan (Le cygne) – Carnival of the Animals
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